Menos Sal, mais problemas?!

Durante décadas, ouvimos que devíamos reduzir drasticamente o consumo de sal para proteger o coração, baixar a pressão arterial e evitar problemas cardiovasculares. Mas... e se essa narrativa estiver errada ou, pelo menos, desatualizada?

Nos últimos anos, vários estudos científicos de grande escala vieram desafiar a ideia de que "menos sal é sempre melhor". Na verdade, dietas com pouco sal podem ter efeitos negativos sobre o nosso corpo — inclusive ao nível hormonal, metabólico e cardiovascular.

O que diz a ciência mais recente?

Estudos como o PURE (com mais de 100 mil participantes) e análises lideradas por investigadores como Andrew Mente e Martin O'Donnell mostraram algo surpreendente:

  • Pessoas que consomem entre 3 e 6 gramas de sódio por dia (o equivalente a 7,5 a 15 g de sal de cozinha) têm menor risco de morte e eventos cardiovasculares do que aquelas que consomem menos de 3 g por dia.

  • Em indivíduos sem hipertensão, não há benefício clínico claro em reduzir drasticamente o consumo de sal.

  • Para hipertensos, sim, o excesso de sal (>7 g de sódio/dia) pode agravar o risco — mas mesmo neste grupo, quantidades muito baixas também se associam a mais risco.

Em suma: o risco é maior nos extremos — tanto o excesso como a falta de sal fazem mal.

Os perigos (pouco falados) de comer pouco sal

Dietas com pouco sal podem desregular profundamente o corpo. Eis alguns dos efeitos:

  • Aumento das hormonas de stress, como a renina, aldosterona, adrenalina e cortisol.

  • Maior resistência à insulina e aumento dos níveis de colesterol LDL e triglicerídeos.

  • Desequilíbrio no sistema nervoso, o que pode, paradoxalmente, aumentar a pressão arterial a longo prazo.

  • Dificuldades a dormir e vontade de urinar várias vezes durante a noite devido à diminuição de um hormônio chamado vasopressina.

Ou seja, ao tentar "proteger-nos" do sal, podemos estar a danificar os nossos sistemas hormonais, metabólicos e cardiovasculares.

Mas todo o sal é igual?

Não. E aqui está outra parte importante: a qualidade do sal.

  • O sal refinado, de mesa, é altamente processado e pode conter aditivos artificiais (como antiaglomerantes).

  • Já os sais naturais (como o sal marinho integral ou do Himalaia) mantêm alguns minerais — mas atenção: mais de 90% dos sais marinhos testados contêm microplásticos, segundo vários estudos.

  • Há opções mais puras, como o Oryx Desert Salt, que alegadamente não contém contaminantes e é colhido de forma sustentável.

O ideal? Evitar sal industrializado, preferir sal não refinado e garantir que provém de fontes seguras.

Então, quanto sal devemos comer?

Com base nos dados mais recentes:

  • Para a maioria das pessoas, 4 a 5 g de sódio por dia (≈ 10 a 12 g de sal) é seguro — e talvez ideal.

  • Hipertensos devem ter mais atenção, mas nem todos precisam de cortar o sal de forma radical.

  • Pode ser importante equilibrar com uma dieta rica em potássio (frutas, legumes, frutos secos), que ajuda a modular os efeitos do sódio.

Estamos a ser enganados?

Não é teoria da conspiração. Mas as recomendações atuais baseiam-se em estudos antigos e, muitas vezes, descontextualizados. Não se consideram:

  • A diferença entre tipos de sal,

  • A individualidade metabólica de cada pessoa,

  • E os efeitos colaterais de dietas pobres em sódio, que hoje já estão bem documentados.

O resultado? Milhões de pessoas a seguir dietas baixas em sal que podem, ironicamente, estar a fazer-lhes mais mal do que bem.

O sal não é o inimigo

O sal não é o inimigo. Como quase tudo na nutrição, o equilíbrio é a chave.

Se queres cuidar da tua saúde cardiovascular, não comas menos sal — come melhor sal, com moderação, e aposta numa alimentação real, rica em vitaminas e minerais e pobre em produtos processados.

“There are in the world five tastes. A man would not be unwell if he abstained for an entire year from either the sweet or sour or bitter or hot; but deprive him of salt for a fortnight, and he will be too weak to tie up a chicken.”

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