“Natural”, “Orgânico”, “Verde”: Quando o Rótulo Engana mais do que Informa

Nos últimos anos, as prateleiras encheram-se de produtos que prometem um mundo melhor: detergentes “naturais”, snacks “orgânicos”, cremes “à base de plantas” e bebidas “limpas”.
Mas há um problema — a maioria dessas palavras não quer dizer absolutamente nada em termos legais ou científicos.

E, no entanto, funcionam. Funcionam tão bem que nos fazem sentir mais seguros, mais saudáveis e até mais éticos.
É o poder do greenwashing: dar uma aparência de pureza a algo que pode estar longe disso.

O cérebro quer acreditar

Vários estudos mostram que expressões como “natural” ou “orgânico” ativam uma resposta emocional automática.
Segundo Schmuck et al. (2018), o chamado efeito halo verde faz com que o consumidor associe qualquer rótulo “eco” a segurança e qualidade, mesmo sem provas.
Outro trabalho, Sörqvist et al. (2015), demonstrou que os produtos “orgânicos” são percebidos como mais saudáveis e nutritivos — embora, na maioria dos casos, não haja diferenças reais.

Este viés não afeta apenas o público em geral: até gestores e compradores profissionais são influenciados por alegações verdes, como mostrou o estudo experimental de Lai et al. (2021).

Em suma, não é ingenuidade — é biologia. O nosso cérebro gosta de histórias simples e palavras positivas.

Quando o “natural” não significa seguro

Na indústria dos produtos de limpeza, o problema é ainda maior.
Termos como “natural”, “não tóxico” ou “à base de plantas” não têm definição legal na União Europeia.
Uma marca pode rotular assim um detergente cheio de solventes sintéticos, fragrâncias artificiais e conservantes controversos — e continuar perfeitamente dentro da lei.

O mesmo acontece na alimentação processada: um estudo publicado na Appetite (Harris et al., 2021) mostrou que bebidas “com fruta” e “sem corantes artificiais” continham, em média, quantidades elevadas de açúcar e aditivos.
O rótulo “natural” é, muitas vezes, apenas um verniz semântico.

O greenwashing do quotidiano

Uma revisão sistemática na Environmental Sciences Europe (de Freitas Netto et al., 2020) descreve sete formas de greenwashing.
A mais comum? A “ambiguidade” — usar termos bonitos mas imprecisos, como “eco-friendly” ou “100 % natural”.

Outras investigações, como Noguerol et al. (2021) e Nugraha et al. (2024), confirmam que as pessoas confiam nesses rótulos mesmo sem entenderem o que significam.
Isto acontece tanto em produtos de limpeza como em alimentos, cosméticos e até moda.

O greenwashing é, no fundo, um marketing de conforto: diz o que queremos ouvir para justificar a compra.

“Antibacteriano” e “orgânico”: cuidado com as exceções

Nem todas as palavras têm o mesmo peso.
Algumas, como “antibacteriano” ou “antimicrobiano”, são reguladas, mas podem introduzir substâncias como triclosan ou amónios quaternários — compostos com função de pesticida, associados a resistência bacteriana e toxicidade ambiental.

Por outro lado, “orgânico” só é um termo legalmente protegido em alimentos certificados.
Fora desse contexto — em cosmética, detergentes ou suplementos — pode ser usado livremente.

O que fazer como consumidor

  1. Desconfia de palavras vagas. “Natural” e “verde” soam bem, mas não significam seguro.

  2. Procura certificações reais. Selos independentes (como o EU Ecolabel ou COSMOS Organic) são auditados.

  3. Lê os ingredientes. A transparência diz mais sobre uma marca do que qualquer frase inspiradora.

  4. Usa ferramentas neutras, que ajudem a perceber o que há realmente no produto.

O lado sujo do marketing “limpo”

O “natural” tornou-se o novo “light”: uma palavra que tranquiliza, mas não informa.
A ciência mostra que a maioria das alegações verdes é vaga, emocional e difícil de provar.
E enquanto as leis não exigirem transparência real, cabe-nos a nós ler com espírito crítico.

Da próxima vez que pegares num detergente, numa bebida “orgânica” ou num creme “limpo”, pergunta:

“O que é que isto quer realmente dizer?”

Porque nem sempre o verde é sinal de pureza.
Às vezes, é só tinta.

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