Produtos de Limpeza podem Danificar os Pulmões tanto como Fumar um Maço por Dia

Limpar a casa pode parecer inofensivo, mas a ciência mostra outra realidade. O uso frequente de produtos de limpeza convencionais, sobretudo em spray, pode acelerar o envelhecimento dos pulmões e causar danos semelhantes aos do tabaco.

Isto não significa que limpar seja perigoso, mas sim que os produtos tradicionais podem comprometer a saúde respiratória – e que existem alternativas mais seguras.

O que diz a ciência

Investigadores acompanharam mais de 6.200 pessoas ao longo de cerca de 20 anos no âmbito do European Community Respiratory Health Survey – um dos maiores estudos europeus sobre saúde respiratória.
O objetivo era simples: perceber se limpar a casa regularmente ou trabalhar como profissional de limpeza estava associado a um declínio mais rápido da função pulmonar.

A resposta foi clara: sim, especialmente no caso das mulheres.

A função pulmonar degrada-se mais rapidamente em quem limpa

Para avaliar a função pulmonar, os cientistas mediram dois parâmetros:

  • FEV₁ – o volume de ar que conseguimos expirar no primeiro segundo.

  • FVC – a quantidade total de ar expirada após uma inspiração profunda.

Com o envelhecimento, é normal que estes valores diminuam gradualmente. No entanto, o estudo mostrou que as mulheres que limpavam com frequência – seja em casa ou profissionalmente – apresentaram um declínio significativamente mais rápido:

  • Mulheres que não limpavam: perda média de 18,5 mL de FEV₁ por ano

  • Mulheres que limpavam em casa: 22,1 mL por ano

  • Mulheres que trabalhavam como profissionais de limpeza: 22,4 mL por ano

O mesmo padrão foi observado no FVC. Curiosamente, nos homens não foi detetada a mesma associação, o que pode dever-se a diferenças na exposição ou na sensibilidade das vias respiratórias.

Sprays e químicos: os principais culpados

O estudo também analisou o tipo de produtos utilizados. Os sprays e agentes de limpeza com compostos químicos voláteis foram os mais associados à redução da função pulmonar.
Segundo os investigadores, a exposição frequente a estes produtos pode irritar as vias respiratórias, causar inflamação crónica e, ao longo dos anos, provocar alterações estruturais nos pulmões – um processo semelhante ao que se observa em pessoas expostas ao fumo do tabaco, embora numa escala menor.

O impacto a longo prazo não é negligenciável

Uma perda anual aparentemente pequena pode ter consequências relevantes ao fim de décadas: menor capacidade respiratória, maior sensação de falta de ar e maior risco de doenças pulmonares crónicas.
Além disso, a prevalência de asma foi ligeiramente superior entre as mulheres que limpavam regularmente.

Como reduzir os riscos no dia a dia

Não é necessário deixar de limpar para proteger os pulmões. Pequenas mudanças podem reduzir significativamente a exposição:

  • Ventilar bem a casa sempre que se utilizem produtos de limpeza.

  • Evitar sprays e produtos agressivos, optando por alternativas naturais como vinagre, bicarbonato de sódio ou sabão neutro.

  • Usar luvas e máscara durante limpezas prolongadas ou com produtos mais fortes.

  • Evitar misturar químicos (por exemplo, lixívia com amoníaco), que libertam gases perigosos.

A limpeza doméstica não é inofensiva

Este estudo mostra que algo aparentemente inofensivo como limpar a casa pode ter consequências reais para a saúde pulmonar ao longo do tempo. A mensagem da ciência é clara: os produtos de limpeza não são inofensivos e o seu uso frequente, sobretudo em forma de spray, pode acelerar o envelhecimento dos pulmões.

Manter a casa limpa é importante, mas fazê-lo com consciência e proteção é essencial para garantir que essa rotina não compromete a nossa saúde.

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