Quando “demais” pode ser mau: até o Exercício tem limites
Vivemos numa época em que o exercício físico é quase um mandamento: “quanto mais, melhor”. E, de facto, a ciência mostra de forma consistente que o sedentarismo é um dos grandes inimigos da saúde moderna.
Mas… será que isso significa que nunca há excesso? Que quanto mais treinar, mais saudável vou ficar?
A resposta pode surpreender: nem sempre.
Quando o exercício deixa de ser remédio
Ao longo da última década, vários estudos começaram a levantar uma questão desconfortável: será que existe um ponto em que os benefícios do exercício deixam de crescer e podem até inverter-se? Eis alguns exemplos:
Voluntários saudáveis: um ensaio clínico mostrou que treinos excessivos e repetidos podem afetar negativamente as mitocôndrias — as “baterias” das células — e até reduzir a tolerância à glicose (Excessive exercise training causes mitochondrial functional impairment and decreases glucose tolerance in healthy volunteers).
Efeitos inflamatórios: investigações têm documentado que o treino em excesso pode induzir um estado de inflamação crónica, com impacto potencial no sistema imunitário e cardiovascular (The proinflammatory effects of chronic excessive exercise).
Dependência de exercício: há também estudos que descrevem um quadro semelhante a uma adição comportamental, em que a prática se torna compulsiva e prejudicial (Exercise addiction: symptoms, diagnosis, epidemiology, and etiology).
Revisões científicas: trabalhos de síntese como Exercise and the heart — the harm of too little and too much sublinham que tanto a falta como o excesso podem sobrecarregar o coração e trazer riscos a longo prazo.
Porque é que o “excesso” pode ser um problema?
O corpo humano foi feito para o movimento, mas também para o descanso e a recuperação. Quando o treino intenso é levado ao limite, todos os dias, podem acontecer coisas como:
Sobrecarga cardíaca crónica – adaptações excessivas que aumentam o risco de arritmias.
Inflamação persistente e microlesões – biomarcadores como a troponina podem subir após esforços muito prolongados.
Disfunção metabólica – excesso de treino pode prejudicar o equilíbrio energético e até a forma como o corpo gere a glicose.
Recuperação insuficiente – sem descanso adequado, o corpo não consegue reparar os danos provocados pelo treino.
A lição que fica
O exercício é um dos melhores “medicamentos” gratuitos que temos. Mas, como qualquer medicamento, a dose faz toda a diferença:
Pouco movimento é claramente mau.
Movimento regular e equilibrado é excelente.
Excesso sem recuperação pode transformar algo bom em risco.
A ideia não é assustar nem desencorajar quem gosta de treinar. Pelo contrário: é lembrar que saúde não se mede apenas em minutos de corrida ou séries no ginásio, mas também na capacidade de ouvir o corpo, descansar e encontrar um ponto de equilíbrio.
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