Caminhos de Santiago: Do Porto a Santiago de Compostela
Caminho de Santiago: Do Porto a Santiago
O que me levou a fazer o Caminho de Santiago? A experiência partilhada por dois amigos e a vontade de abraçar novas aventuras. Fiz alguma pesquisa, mas nada muito aprofundado. Decidi fazê-lo em agosto por uma questão de disponibilidade e porque adoro calor, verão e explorar lagos, rios e cascatas.
No dia 9 de agosto, apanhei um autocarro para Campanhã, no Porto, desde as Caldas da Rainha. Cheguei às 12h e caminhei até à Sé do Porto, onde recolhi a caderneta para os carimbos da viagem. Ainda não tinha decidido se seguiria pelo Caminho Central ou pelo da Costa, mas depois de algumas perguntas e com uns agradáveis 26 graus, segui o instinto e escolhi o Caminho da Costa – e que decisão acertada!
Desci à Foz do Douro pela primeira vez e, nessa tarde, caminhei até Funtão, cerca de 22 km, em 5 horas. Cheguei mesmo a tempo de montar a tenda e assistir a um pôr do sol incrível. Apesar da curta distância, foi um dia difícil, pois levava demasiado peso (tenda, muita comida e tudo o necessário para sobreviver 12 dias).
A noite foi um pouco desconfortável – dormir numa tenda em locais considerados "zona cinzenta" nunca é totalmente tranquilo –, mas suficiente para recuperar. No segundo dia, comecei cedo e segui sempre junto ao mar. Passei por praias como a de Mindelo e muitas outras que nunca imaginei que existissem no Norte. Acabei por montar a tenda em Aguçadoura, junto à praia. Caminhei nesse dia 22 km em 5 horas, cheguei a tempo de um mergulho, um banho improvisado com garrafão e um bom jantar a ver o pôr do sol.
No terceiro dia, acordei cedo, como de costume, e comecei a caminhada com bastante nevoeiro. O objetivo era chegar perto de Viana do Castelo. Pelo caminho, encontrei-me com a minha namorada e amigos, o que me permitiu descartar alguns itens para aliviar o peso (máquina de café, botija de gás, alguma roupa, etc.). Cheguei a Viana já tarde e, devido às festas, não encontrei local para montar a tenda. Após alguma pesquisa, descobri um convento que me acolheu – uma experiência incrível! Passei a noite num quarto partilhado com um americano, com quem troquei experiências por duas horas. Depois de 37 km e 9 horas a caminhar, tudo o que queria era descansar.
No dia seguinte, segui rumo ao topo de Portugal. Foi, senão a, uma das experiências mais bonitas da minha vida. A chegada à praia de Moledo, a mais a norte de Portugal, foi incrível. Um local espetacular! Dei um mergulho numa água gelada que, para os locais, estava quente. Depois de algumas perguntas, decidi fugir da rota convencional e atravessei um pinhal até Caminha – até hoje, a zona mais bonita de Portugal para mim. Simplesmente incrível!
Em Caminha, fiquei num albergue, mas desta vez num dormitório com 24 pessoas, camas e colchões antigos. Resultado: fui para a cama às 21h e, depois de 5 horas sem conseguir dormir (20 das 24 pessoas ressonavam), desisti. Tomei banho e saí às 3h da manhã. Caminhei inicialmente pela estrada principal para maior segurança, por volta das 7h, entrei num percurso incrível junto ao rio Minho até Valença. Cheguei cedo, explorei a cidade e comprei tampões para os ouvidos (aprendi a lição), já que voltaria a dormir num albergue. Aproveitei para carregar o telemóvel, lavar roupa e trocar experiências com outros peregrinos.
De manhã cedo, segui pelo Caminho Central rumo a Espanha. Encontrei um português experiente, com quem caminhei durante três horas e aprendi muito sobre os Caminhos. Nesse dia, após 30 km e 8 horas a andar, cheguei a Redondela e descobri que não havia espaço em nenhum albergue. Cansado e um pouco em pânico, encontrei uma solução inesperada: um parque de campismo na praia de Cesantes. E que escolha incrível! Um grande mergulho e uma paisagem incrível compensaram tudo.
No dia seguinte, caminhei rumo a Barosa, onde havia um parque natural com uma cascata incrível. Foi um dia duro – caminhava, em média, 30-35 km por dia, o que representava 7 a 8 horas de esforço –, mas o destino valeu cada gota de suor. Desfrutei do espaço, montei a tenda e passei uma excelente noite.
Este seria o meu último dia de caminhada, mas não era o plano inicial. Pretendia parar em Padrón, mas, devido à superlotação dos albergues em agosto e ao facto de me sentir bem fisicamente, reservei uma noite num convento em Santiago. Pelo caminho, reencontrei o português com quem tinha caminhado antes e, pela primeira vez, perdi-me. Com cerca de 40 graus de temperatura, segui em frente. Quatro horas antes de chegar, comecei a quebrar. Foi muito duro. Descobri que um pé mal colocado na calçada portuguesa três dias antes tinha causado um tornozelo inchado e uma unha negra prestes a cair. Por sorte, cruzei-me pela segunda vez com duas peregrinas – uma espanhola e uma polaca –, que me incentivaram: "Vá, bora, está quase, o resto não custa nada!".
As últimas três horas passaram a voar. Estivemos sempre a conversar sobre temas profundos, crenças e experiências de vida, o que me distraiu da dor e do cansaço. Cheguei a Santiago no dia 16 de agosto, pelas 18h, com um sorriso gigante e uma felicidade indescritível por ter completado o desafio. Nesse dia, andei 11 horas e percorri 43 km. Tomei um banho merecido, comi uma grande pizza em forno a lenha e desisti de explorar a cidade – mal conseguia andar.
Na manhã seguinte, dei uma pequena volta e apanhei um autocarro direto para Fátima, recomendado pelo português que conheci no Caminho. Foi uma experiência incrível, pelo desafio, pelas pessoas, pelos lugares incríveis. Sem dúvida, algo que decidi repetir pelo menos uma vez por ano.