Devemos dar um telemóvel às crianças?

Numa entrevista que se tornou viral, Robbie Williams disse que o telemóvel é como uma droga. Confessava que era difícil para os filhos aceitarem que os colegas já tinham um, mas que ia tentar adiar esse momento o máximo possível.

A frase levanta uma questão que hoje assombra muitos pais: quando é que uma criança deve ter o seu primeiro telemóvel? Ou quando deve começar a interagir com ele de forma segura?

A diferença entre antes e agora

Na minha infância, sem telemóveis, havia espaço para o tédio criativo.
Lembro-me de inventar jogos na rua, brincar com amigos cara a cara e simplesmente sonhar acordado. Esse “vazio” ensinava-nos a lidar com emoções, a ser resilientes e a valorizar o mundo real.

Hoje, o telemóvel preenche todos os momentos: mata o silêncio com notificações constantes e rouba às crianças a chance de aprenderem a gerir o tédio. O resultado? Menos maturidade emocional e uma dependência precoce de estímulos digitais.

Imagina o teu filho a explorar o mundo exterior em vez de fazer scroll infinito. Não é isso que queremos preservar?

Os dois lados da moeda: benefícios e riscos

O telemóvel não é apenas um vilão; pode ser uma ferramenta poderosa. Vamos ver os dois lados de forma clara.

Benefícios de introduzir um telemóvel

  • Acesso rápido a informação e apps educativas.

  • Oportunidade de aprender línguas, programação ou estimular a criatividade digital.

  • Contacto fácil com amigos e família (útil em famílias separadas ou viagens).

  • Segurança: chamadas de emergência e localização em tempo real.

Riscos do uso excessivo

  • Exposição a conteúdos tóxicos ou impróprios.

  • Pressão social e comparações constantes.

  • Cyberbullying.

  • Dependência de dopamina através do scroll infinito.

  • Perda de atenção e foco (impacto no rendimento escolar).

  • Sono prejudicado (luz azul e notificações noturnas).

  • Menos contacto com o mundo real, menos brincadeira ativa e interação social.

O que dizem os especialistas: recomendações por idade

Não existe uma idade “certa” universal, mas as recomendações são consistentes:

  • Até aos 3 anos: evitar ecrãs totalmente, exceto para videochamadas. A televisão pode ser usada até 30 minutos diários, sempre na presença de um adulto e com conteúdos adequados.

  • Entre os 4 e 6 anos: limite de 30 minutos por dia, apenas de programação de alta qualidade, acompanhada por um adulto. As crianças não devem controlar sozinhas canais ou vídeos.

  • Dos 7 aos 11 anos: até 1 hora por dia de ecrãs, desde que não comprometa o sono, a atividade física, o estudo ou a interação social.

  • Dos 12 aos 15 anos: até 2 horas por dia, com as mesmas ressalvas sobre sono, estudo e bem-estar.

  • Dos 16 aos 18 anos: até 3 horas por dia. O acesso às redes sociais deve ser adiado o máximo possível, preferencialmente apenas depois dos 16 anos.

E um conselho transversal a todas as idades: os ecrãs não devem servir para gerir birras, ocupar momentos de espera ou substituir refeições em família.

Quando é “demais”?

Um telemóvel torna-se um problema quando:

  • Substitui brincar, ler, dormir ou conviver.

  • A criança perde o controlo, fica irritada sem ele ou usa-o para fugir das emoções.

  • Há impactos visíveis: notas a descer, problemas de sono, isolamento ou mudanças de humor.

Se notares estes sinais, pode ser útil uma desintoxicação digital em família — dias sem ecrãs para reconectar com o mundo offline.

Mais perguntas do que respostas

Não existe uma solução mágica. Os estudos mostram os riscos e os problemas (desde sono à atenção, da saúde mental à autoestima), mas também reconhecem o potencial positivo dos telemóveis.

Costuma-se dizer que a resposta está no equilíbrio, mas a verdade é que este equilíbrio é frágil. A vida real mostra que a criança — e até o adulto — acaba por querer sempre “mais um pouco”.

Talvez a melhor resposta seja esta: adiar o máximo possível, introduzir com regras claras e, acima de tudo, ensinar pelo exemplo. Porque a forma como nós, adultos, usamos a tecnologia é a maior lição que damos aos nossos filhos.

Fontes:

Shorts:

Anterior
Anterior

Respirar para Acalmar: a Ciência do Suspiro Fisiológico

Próximo
Próximo

Mais Perguntas do que Respostas