Pão de Forma - O que eu não sabia
Na minha infância, comi muito pão de forma branco. Daquele fofo, embalado, com sabor levemente adocicado e que aguentava dias e dias sem ganhar bolor. Era prático, não fazia migalhas e era presença certa ao pequeno-almoço ou lanche, muitas vezes com queijo, fiambre ou manteiga.
Os meus pais davam-me esse pão com a melhor das intenções. Achavam que era um alimento seguro, nutritivo e moderno. E como culpar quem cresceu sem acesso à informação que temos hoje? O problema é que essa escolha era — e continua a ser — influenciada por uma indústria alimentar que, na prática, não se preocupa com a nossa saúde. Só com as vendas.
O “Wonder Bread” e os seus primos portugueses
Nos Estados Unidos, há uma marca que representa bem este tipo de pão: o Wonder Bread. Lançado em 1921, tornou-se um ícone do pão ultra-processado: branco, macio, quase sem sabor… e com uma lista de ingredientes que mais parece um rótulo de produto químico.
A fórmula inclui:
Farinha de trigo enriquecida
Açúcar
Óleos vegetais
Emulsionantes
Conservantes
Estabilizantes, aromas artificiais, enzimas
E em Portugal? Pode não haver Wonder Bread à venda, mas temos equivalentes muito parecidos: Panrico, Bimbo, e outras marcas de pão de forma branco industrializado. Se lermos os rótulos, encontramos ingredientes quase idênticos — apenas com nomes adaptados à regulação europeia.
Um pão que alimenta pouco… e inflama muito
Este tipo de pão é feito para durar, resistir e vender. Mas não para nutrir. É um produto com:
Farinha altamente refinada (pouco ou nenhum valor nutricional real)
Aditivos e conservantes para garantir textura, elasticidade e durabilidade
Açúcares escondidos e emulsificantes que afetam a microbiota e o metabolismo
E quase zero fibra, o que significa digestão rápida e fome pouco depois
Na prática, este pão comporta-se mais como um doce do que como um cereal integral. É um alimento com elevado índice glicémico, que contribui para picos de insulina e promove processos inflamatórios se consumido com frequência.
Não se trata de culpar os pais
Na altura, os meus pais não sabiam disto. Acreditavam na publicidade, nos rótulos coloridos e na conveniência. Não havia blogs, vídeos de médicos funcionais, ou estudos acessíveis sobre o impacto da alimentação ultra-processada. Hoje há.
E é precisamente por isso que vale a pena olhar com espírito crítico para o que colocamos à mesa. Não para julgar o passado — mas para fazer melhor no presente.
Então… que pão (se algum) devemos comer?
A resposta pode não ser igual para todos — mas uma regra é quase universal: quanto menos processado, melhor. Se vamos incluir pão na alimentação, que seja o mais simples possível.
Em vez do pão de forma industrializado, podemos optar por:
Pão de fermentação lenta
Broa de milho tradicional
Pão caseiro, com 3 ou 4 ingredientes que reconhecemos
Ler o rótulo é meio caminho andado. Um “pão” com 15 ingredientes, estabilizadores, emulsificantes e códigos como E471 ou E282… não é verdadeiramente pão. É um produto de marketing moldado para durar nas prateleiras — não para alimentar o corpo.
Talvez a pergunta não seja só “que pão devo escolher?”, mas também “preciso mesmo de pão?”. Para muitas pessoas, essa resposta está a mudar com o tempo, com o corpo — e com a informação certa.
Um alerta, não um ataque
Este texto não é um ataque a marcas ou a quem consome pão de forma. É um alerta. Porque eu também cresci a comer estas coisas. E sei que muitos de nós ainda as vemos como “normais”.
Mas quando entendemos o impacto que um alimento tem no corpo — a nível metabólico, hormonal, intestinal e até mental — deixamos de ver o pão de forma como algo inofensivo.
Pão pode ser bom. Mas só quando é mesmo pão.
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