117 Anos de Vida: o que o caso de Maria Morera nos Ensina Sobre Envelhecer Bem
Maria Morera viveu até aos 117 anos. Pouco antes de morrer, pediu aos cientistas: “Por favor, estudem-me.” E foi isso que fizeram. O resultado é um estudo fascinante publicado na Cell Reports Medicine que revela pistas importantes sobre o que realmente conta para uma vida longa e saudável.
O mais curioso? Não tem a ver com os marcadores que costumamos considerar essenciais.
Colesterol saudável vai além do “mau” e do “bom”
Uma das primeiras descobertas que chamou a atenção dos investigadores foi o seu perfil lipídico. À primeira vista, o seu LDL — o chamado “mau” colesterol — não era particularmente baixo. Mas isso não conta a história toda.
O estudo mostra que Maria tinha níveis extremamente baixos de VLDL-colesterol e triglicéridos (ambos associados a maior risco cardiovascular) e níveis elevados de HDL, o colesterol “bom”. Ou seja, o seu metabolismo lipídico era altamente eficiente e protetor — não um “paradoxo” de LDL alto sem consequências.
Isto reforça uma mensagem importante: o contexto metabólico completo importa mais do que um único número isolado. Quando o organismo está em equilíbrio e a inflamação controlada, o risco real pode ser muito menor do que os valores sugerem à primeira vista.
Telómeros curtos… e longevidade impressionante
Durante anos acreditou-se que telómeros longos — as pontas dos cromossomas que protegem o nosso ADN — eram sinal de juventude e saúde.
Mas Maria, aos 117 anos, tinha telómeros tão curtos quanto seria esperado para a sua idade. E mesmo assim, estava saudável.
Este é um ponto essencial: o comprimento dos telómeros pode ser um simples “relógio biológico” e não um indicador direto de vitalidade ou longevidade. Ter telómeros curtos não a impediu de viver mais de um século com saúde.
Mitocôndrias fortes e inflamação mínima
O que realmente distinguia Maria era a saúde das suas mitocôndrias — as “baterias” das células. Elas funcionavam como as de uma pessoa décadas mais jovem.
Além disso, apresentava níveis extremamente baixos de inflamação sistémica, um dos principais motores do envelhecimento biológico. Biomarcadores como o GlycA indicavam um estado de “inflammaging” quase inexistente.
Esta combinação — mitocôndrias eficientes e inflamação controlada — criou um ambiente interno protetor, capaz de neutralizar fatores de risco e manter a saúde mesmo com telómeros curtos ou colesterol não “ideal”.
Alimentação simples e microbioma saudável
Nos últimos 20 anos de vida, Maria manteve uma alimentação simples, consistente e rica em alimentos reais. O destaque vai para:
Iogurte diário (três vezes por dia), com bactérias benéficas como Streptococcus thermophilus e Lactobacillus bulgaricus, associadas a um microbioma rejuvenescido e menor inflamação.
Azeite como principal fonte de gordura, dentro de um padrão alimentar mediterrânico.
Consumo regular de peixe…
Nada de dietas da moda ou suplementos milagrosos. Apenas consistência, qualidade e simplicidade — três fatores que podem ter desempenhado um papel decisivo no seu envelhecimento saudável.
Muito além da biologia: o lado social e emocional
Embora o estudo se concentre nos aspetos biológicos e metabólicos, é importante lembrar que a longevidade não é apenas ciência de laboratório.
Fatores como baixos níveis de stress, uma rotina ativa, propósito de vida e laços sociais fortes têm um peso enorme no envelhecimento saudável. Embora nem todos esses aspetos tenham sido explorados em detalhe no caso de Maria, muitos centenários partilham estas características — e elas podem ser tão importantes quanto os genes ou a alimentação.
A grande lição
O caso de Maria Morera desafia várias ideias feitas sobre o envelhecimento. Mostra-nos que:
O perfil lipídico deve ser analisado no contexto global, não apenas pelo valor do LDL.
Telómeros curtos não significam necessariamente doença ou envelhecimento precoce.
Mitocôndrias eficientes e inflamação mínima são pilares de proteção a longo prazo.
Uma alimentação simples e consistente, com impacto positivo no microbioma, é uma aliada poderosa.
Fatores emocionais e sociais completam a equação da longevidade.
Em suma, envelhecer bem não é perseguir números perfeitos nas análises, mas sim criar um ambiente interno — e um estilo de vida — que suporte a saúde durante décadas. É essa sinergia que pode transformar 80 em 90… e 90 em 117.
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