As Fragrâncias Artificiais São o “Novo Tabaco”?

Há algumas décadas, o tabaco era normal, socialmente aceite e até recomendado. Hoje, sabemos o impacto devastador que teve na saúde pública. Algo semelhante está a acontecer com as fragrâncias artificiais: estão por todo o lado, são promovidas como seguras e associadas a “casa limpa”, mas começam a ser ligadas a problemas respiratórios, hormonais e neurológicos. E a maioria das pessoas nem se apercebe de que as respira diariamente.

Respiramos cerca de 21 mil vezes por dia e, na maior parte do tempo, fazemos isso dentro de edifícios. No entanto, quase ninguém reflete sobre a qualidade do ar que inspira.

O ar dentro de casa pode ser mais prejudicial do que o ar da rua — e as fragrâncias artificiais são uma das principais razões para isso.

O ar interior pode ser mais poluído do que o exterior

De acordo com a Environmental Protection Agency (EPA), os níveis de compostos orgânicos voláteis (VOCs) no interior das habitações são frequentemente duas a cinco vezes superiores aos do ar exterior.

Uma das maiores fontes destes poluentes são os produtos perfumados: detergentes da roupa, produtos de limpeza, amaciadores, ambientadores, velas aromáticas e difusores.

Um estudo de Steinemann et al. (2011), que analisou produtos perfumados de uso comum, concluiu que cada produto libertou mais de 100 VOCs, incluindo substâncias classificadas como tóxicas ou perigosas para a saúde humana. A maioria destes compostos não aparece no rótulo.

O que são VOCs e porque devemos preocupar-nos

Os compostos orgânicos voláteis são substâncias químicas que evaporam facilmente e ficam suspensas no ar. Ao serem inaladas, entram diretamente no sistema respiratório e circulatório.

Alguns VOCs libertados por fragrâncias incluem limoneno, acetaldeído, formaldeído, tolueno e benzeno. Além disso, estas substâncias podem reagir com o ozono em ambientes interiores e formar partículas ultrafinas. Estas partículas conseguem penetrar profundamente nos pulmões e passar para a corrente sanguínea.

Uma revisão publicada em 2025 descreveu como fragrâncias artificiais podem desencadear reações químicas no ar interior que resultam na formação de nanopartículas, aumentando o risco para a saúde respiratória e cardiovascular.

Impacto potencial na saúde

A exposição repetida e prolongada a fragrâncias artificiais não é inofensiva. Estudos associam o contacto frequente com estes compostos a:

  • Irritação das vias respiratórias, tosse, agravamento de asma e alergias

  • Dores de cabeça, tonturas e dificuldade de concentração

  • Inflamação e sensibilização química

  • Possível disrupção endócrina (dependendo dos compostos envolvidos)

Uma revisão científica de 2023 (Rádis-Baptista) concluiu que fragrâncias sintéticas presentes em produtos domésticos e de higiene pessoal estão associadas a sintomas respiratórios, cutâneos, neurológicos e cardiovasculares, especialmente em pessoas sensíveis e crianças.

“Cheiro a limpo” não é sinónimo de ambiente saudável

A ideia de que uma casa limpa deve “cheirar bem” foi criada pelo marketing. O verdadeiro ar limpo não tem cheiro.

Um estudo de Steinemann (2020) mostrou que até produtos rotulados como “naturais”, “verdes” ou “sem fragrância” podem libertar substâncias nocivas. Muitas marcas utilizam compostos mascarantes para disfarçar odores, o que não resolve o problema: apenas o esconde.

Quem está mais vulnerável

Ainda que todos possam ser afetados, a exposição é mais preocupante em:

  • Bebés e crianças, que respiram mais ar por quilo de peso

  • Pessoas com alergias, asma ou sensibilidade química

  • Grávidas e idosos

  • Animais de estimação

Como reduzir a poluição química do ar em casa

Há medidas simples e eficazes que podem diminuir a exposição:

  1. Reduzir ou eliminar produtos com fragrâncias artificiais.

  2. Ventilar a casa diariamente durante alguns minutos.

  3. Evitar ambientadores, velas perfumadas e sprays de aromas.

  4. Usar purificadores de ar com filtros HEPA combinados com carvão ativado.

  5. Optar por detergentes e produtos de limpeza não perfumados.

O engano do “cheiro bom”

A maior parte das pessoas está mais exposta à poluição do ar dentro de casa do que na rua. Os produtos perfumados são uma das principais fontes dessa contaminação. “Cheiro agradável” não significa ar limpo ou saudável. Ao fazer pequenas mudanças e ao questionar o uso de fragrâncias artificiais, é possível reduzir significativamente a carga química que se respira diariamente.

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