Oura Ring, Palantir e o Governo dos EUA: qual é o valor dos nossos dados?

Vivemos numa era em que monitorizamos quase tudo: quantos passos damos, como dormimos, quantas calorias queimámos, a frequência cardíaca, a variação da temperatura corporal. Wearables como a Oura Ring, a Whoop ou o Apple Watch transformaram-se em verdadeiros cofres de informação íntima sobre o nosso corpo e estilo de vida.

O problema é que esses cofres nem sempre estão totalmente nas nossas mãos.

Recentemente, a Oura anunciou a expansão da sua parceria com o Departamento de Defesa dos EUA — incluindo uma nova fábrica para dar apoio a esse negócio de defesa. A notícia foi recebida com desconfiança, sobretudo porque se falou também em ligações com a Palantir, empresa conhecida pelo seu papel em operações de vigilância e análise de dados para agências de inteligência e forças militares.

A Oura apressou-se a esclarecer: garante que não vende dados dos utilizadores, que só partilha informação com consentimento explícito e que os sistemas usados para contratos militares estão separados dos usados pelos consumidores comuns. Mesmo assim, a polémica abriu uma ferida importante:

Estamos a entregar quantidades gigantescas de informação pessoal sem refletir o suficiente sobre o destino desses dados.

O valor escondido nos nossos dados

Pensamos que uma métrica de sono, de batimento cardíaco ou de temperatura corporal é “apenas um número”. Mas para as empresas, governos ou seguradoras, esse número é ouro puro:

  • Pode revelar se estamos stressados, cansados ou doentes.

  • Pode prever riscos de saúde antes mesmo de termos sintomas.

  • Pode ser usado para segmentação de seguros, programas de produtividade ou até de vigilância.

Ou seja: não são apenas dados de fitness, são a nossa biologia transformada em informação comercializável.

A obsessão pelas métricas

O mais curioso é que esta obsessão parte de nós: queremos sempre medir mais, controlar melhor, optimizar cada detalhe. O problema não é usar tecnologia para conhecer o corpo — isso pode ser útil e até saudável. O problema é que, ao tornarmo-nos dependentes destas métricas, abrimos a porta para que empresas e governos também passem a conhecer-nos melhor do que nós próprios.

E quando isso acontece, a balança do poder muda: deixamos de ser donos dos nossos dados e passamos a ser o produto.

O que fazer então?

  • Questionar: quem tem acesso aos meus dados? A empresa é transparente sobre isso?

  • Selecionar: precisamos mesmo de medir tudo? Ou basta usar algumas ferramentas com moderação?

  • Exigir: legislação mais clara, maior proteção da privacidade e responsabilidade por parte das empresas.

Quando os nossos dados valem mais do que nós

A história da Oura e da Palantir é apenas um exemplo do que já está a acontecer em larga escala: dados biométricos, de saúde e de comportamento estão a tornar-se um ativo valioso, disputado por empresas e governos.

O risco é grande: ficarmos tão obcecados em medir cada passo, cada batimento, cada hora de sono… que não percebemos que o verdadeiro jogo não é sobre a nossa performance, mas sobre quem controla a informação que nos define como seres humanos.

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